Os empresários de varejo e serviços estão otimistas com o desempenho da economia e de seus próprios negócios no segundo semestre do ano, embora os primeiros seis meses do ano tenham sido difíceis para os seus respectivos setores. Essa é a principal conclusão de um estudo realizado em todas as capitais brasileiras pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
Segundo a pesquisa, 44% dos empresários de varejo e serviço apostam em um cenário econômico melhor para o país no segundo semestre em relação ao primeiro, enquanto 38% acreditam que será igual e apenas 14% estimam um quadro pior. A região Centro-Oeste é a mais pessimista em relação a isso, onde apenas 27% tem essa expectativa de progresso.
Parte desse otimismo também se reflete numa expectativa favorável quanto ao desempenho do seu próprio negócio. Nesse quesito, o índice sobe de 44% para 55% dos entrevistados. Já um terço (33%) estima que a segunda metade do ano se manterá no mesmo patamar do primeiro semestre.
Para o presidente da CNDL, José César da Costa, “esse clima de confiança é bastante positivo, principalmente se olharmos a situação crítica enfrentadas por muitas empresas nos seis primeiros meses do ano”, afirmou tendo em vista que 49% desses empresários tiveram que fazer cortes no orçamento. Enquanto 28% tiveram que reduzir o cardápio de opções de produtos ou serviços que ofereciam, 36% afirmaram que tiveram que demitir funcionários.
Apesar disso, de acordo com um outro levantamento realizado recentemente pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), os setores de serviços e comércio criaram 75% das vagas de trabalho intermitente e parcial desde que a Reforma Trabalhista foi aprovada pelo Congresso e sancionada por Michel Temer.
Percepção dos empresários de varejo e serviços
O levantamento do SPC Brasil, porém, apontou que metade dos entrevistados (50%) não acredita em um crescimento da economia nos próximo meses. Esse índice é bem maior do que os 39% registrados no mesmo período do ano passado.
Uma outra parcela significativa (40%), porém, avaliou que a economia poderá avançar o que segundo o presidente do SPC Brasil, Roque Pelizzaro, pode ser explicado por “apesar de boa parte dos empresários não estar confiante de que a economia possa voltar a crescer este ano, em razão das incertezas com as eleições, a boa notícia é que muitos estão esperançosos que o próprio negócio deve ganhar fôlego no segundo semestre “, avaliou.
Entre os que estimam uma melhor situação para sua empresa na segunda metade do ano, 46% dizem estar otimistas quanto a uma melhora do cenário nacional, embora não apresentem uma razão concreta por isso, e 33% esperam ampliar sua carteira de clientes.
Ainda dentro essa onda de confiança, mais da metade dos empresários brasileiros (51%) espera ter uma receita superior ao primeiro semestre. Já para 36%, o comércio deve seguir igual e apenas 9% acreditam num volume de vendas menor.
Enquanto isso, entre aqueles que estimam uma situação pior para sua empresa no segundo semestre, 52% acreditam que o fato da situação econômica permanecer ruim irá compromete seus próprios negócios, sobretudo, prejudicando as vendas (33%).
As perspectivas negativas têm como base os resultados obtidos na primeira metade do ano, em que muitos viram o ritmo da economia diminuir e suas vendas também em relação ao ano passado. De acordo com o estudo, 48% dos entrevistados disseram que a economia do país no primeiro semestre, inclusive, piorou quando foi pedido que comparassem com o mesmo período de 2017.
Influência da confiança nos investimentos
Medir a expectativa dos empresários de varejo e serviços é fundamental porque a confiança dessa categoria está diretamente relacionada à retomada dos investimentos e à geração de empregos. Por isso, um outro elemento importante identificado pela pesquisa diz respeito à percepção dos empresários de que a economia fraca não irá impedir o andamento de projetos para o segundo semestre.
Se no primeiro, o percentual de empresários que afirmaram ter adiado planos previstos foi de 31%, principalmente por conta da falta de recursos financeiros, para os próximos meses, 60% dos varejistas sinalizaram que pretendem seguir com os projetos já traçados.
Segundo esses, entre as ações previstas estão a ampliação do seu negócios (18%) – percentual que é ainda maior nas capitais (22%) –, o lançamento de produtos ou serviços (17%) e o ingresso no ramo do comércio digital (11%). Na contramão, 40% disseram que não tem nada previsto. Um percentual, no entanto, significativamente menor do que o registrados em 2017: 51%.
O estudo também buscou verificar a intenção das empresas em relação a suas finanças. Nesse quesito, 19% desejam construir uma reserva financeira (sendo que em 2017, esse índice foi de 5%), 9% esperam adquirir máquinas e equipamentos, enquanto apenas 6% preveem tomar empréstimo em bancos ou financeiras (contra 4% registrado no ano passado).
Outros 24%, no entanto, visam tomar crédito, guardar dinheiro ou investir nos seus próprios negócios. Um aumento também considerável em relação aos 16% registrados no ano anterior.
O problema diagnotistcado em relação a isso é que 72% pensam em manter o número de colaboradores, um sinal claro de que a maior parte do empresariado ainda se mantém cautelosa em relação à lenta recuperação econômica do Brasil.
Esse número fica ainda mais preocupante quando comparamos com os apenas 17% que desejam ampliar seu quadro de pessoal durante esse período. Ao menos, apenas 6% afirmaram querer reduzir sua equipe de colaboradores.
Entre aqueles que estimam reforçar o seu quadro de funcionários, 64% disseram optar pela contratação formal, percentual menor do que o registrado no ano passado (77%) e maior entre os comerciantes (72%).
Já para 18%, as contratações serão de profissionais informais, enquanto outros 15% vão contratar terceirizados. Esse índice era de apenas 1% em 2017 e teve o maior crescimento percentual entre todos os índices pesquisados, resultado direto dos impactos da nova legislação aprovada na Reforma Trabalhista no segundo semestre do ano passado.
Por fim, o SPC e a CNDL também investigaram a causa da confiança ou desconfiança dos entrevistados e, como adiantado por Roque Pelizzaro, as eleições estiveram no topo da pirâmide de preocupações.
Para 44% dos entrevistados, o custo de vida e o preço das coisas irão aumentar, enquanto 41% acreditam que as taxas de juros sofrerão elevação em função da disputa eleitoral. Já o desemprego (45%) e as vendas (47%) devem permanecer da mesma forma para a maior parte dos empresários de varejo e serviços entrevistados pelo estudo. “Esse resultado reflete as incertezas dos empresários do varejo em relação ao próximo governo”, comenta Pellizzaro.
Fonte: Brasil Econômico