Não basta apenas higienizar as mãos frequentemente e adotar o isolamento social. Especialistas de Mato Grosso do Sul orientam que a limpeza de superfícies e objetos é fundamental também para evitar o contágio da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
A médica infectologista do Hospital Universitário da UFGD (HU-UFGD), Andyane Freitas Tetila, explica que como o novo coronavírus é transmitido por gotículas de secreções como a saliva e a coriza, uma pessoa infectada as expele ao falar e ao tossir, contaminando, por sua vez, outras pessoas e as estruturas do ambiente ao seu entorno.
“Assim, ao se ter contato com essas superfícies contaminadas, o indivíduo carregará consigo partículas virais, sendo o principal meio de contato suas mãos que, se levadas às mucosas da face – olhos, nariz e boca – servirão de meio de penetração do vírus para infecção do sistema respiratório”, esclarece a profissional, mestre em doenças infecciosas e parasitárias.
De acordo com um estudo publicado no New England Journal of Medicine, os vírus podem sobreviver por três horas no ar, por quatro horas em cobre, por 24 horas em papelão e por entre dois e três dias em superfícies de aço inoxidável e de plástico.
Dessa forma, além da lavagem constante das mãos com água e sabão e o uso de álcool em gel 70%, quando disponível, a limpeza diária de objetos de uso pessoal frequente como computadores, chaves e telefones celulares, e a higienização de ambientes de uso comum, é essencial.
“Superfícies tocadas por um grande número de pessoas como corrimões, maçanetas, portas, botões de elevador, máquinas de cartão, entre outras, são de grande risco. Sempre que a pessoa as tocar, deve proceder à higienização das mãos. Ainda, estes espaços públicos devem instituir limpeza rigorosa neste momento, para minimizar a disseminação viral. Diariamente ou, se possível, mais de uma vez ao dia”, afirma a médica.
E os trabalhadores que realizam esse tipo de atividade, principalmente em ambientes coletivos, requerem atenção especial de seus empregadores, aponta a especialista. Devem ser orientados a respeito da dinâmica da infectividade viral, dos meios de contágio e de suas formas de prevenção, além de usarem equipamentos de proteção individual específicos para sua área de atuação.
Ela orienta, ainda, que para sua própria segurança, em casa, as pessoas também mantenham bons hábitos de higiene, lavando sempre as mãos com água e sabão – de preferência, em função da escassez do álcool em gel no comércio, priorizando seu uso aos serviços de saúde – e limpando superfícies e objetos com álcool 70% ou outros produtos com eficácia comprovada. Em locais externos, deve-se evitar ao máximo o contato com itens de uso coletivo e evitar aglomerações.
“E também, como vem sendo intensamente frisado, manter a ‘etiqueta da tosse’, evitando usar as mãos como anteparo e, sim, usando a parte interna do braço ou lenço descartável”, enfatiza Andyane, insistindo que, na ausência de vacinas e outras medicações para a cura da Covid-19, a população precisa adotar boas práticas de higiene, pois eliminando as secreções e as sujeiras que abrigam o vírus, a transmissão pelo contato é evitada.
Higiene e Segurança
Em evidência, graças à sua eficácia já conhecida de longa data, o uso do álcool 70% é bastante corriqueiro, conforme explica o químico Wesley Pereira da Silva, técnico de laboratório da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia (FACET) da UFGD. Ele diz que o produto funciona na prevenção à Covid-19 pelo fato de a toxicidade do etanol – tipo de álcool usado na produção da solução em gel – ser bastante acentuada para células.
“No entanto, a membrana celular não é permeável a etanol, ou seja, a membrana celular se fecha e não permite a entrada do álcool. Por isso a solução também leva água, o que faz com que a membrana se torne permeável, permitindo a entrada do etanol que mata a célula”, explica o profissional, doutor em Química pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
Ele afirma que existe uma série de outros saneantes naturais, inclusive, muito estudados na área da Química, porém não é aconselhável que sejam de uso doméstico, pois devem ser manipulados de forma adequada para que venham a ter eficácia. “É imprescindível que a população procure ter acesso a produtos elaborados de maneira adequada por um responsável técnico, uma vez que a eficácia é de extrema importância no combate ao novo coronavírus”, alerta o técnico.
Produzir materiais de desinfecção e limpeza em casa também não é recomendado, de acordo com Silva. Apesar da boa intenção de quem os produz, não há como se ter controle das características de tais produtos. “Ao invés de se criar uma solução que atue na eliminação do vírus, pode-se estar acentuando o problema, já que as pessoas vão confiar na funcionalidade desses produtos caseiros e acreditar que estão se precavendo”, aponta.
O especialista garante que, além do álcool 70%, os reais aliados na prevenção à Covid-19 são os sabões e detergentes convencionais encontrados em qualquer supermercado. “Esses produtos apresentam atividade antiviral comprovada e podem ‘estar às mãos’ de todas as pessoas”, finaliza, lembrando que é essencial que tenham certificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Fonte: Correio do Estado